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10 dicas para escrever um roteiro de sucesso de Hollywood

Texto publicado na BBC Brasil

Tony Gilroy é um dos roteiristas mais cotados de Hollywood, por causa de sucessos como Armageddon (1998) e O Advogado do Diabo (1997). Ele ganhou o Oscar de melhor roteiro original com Conduta de Risco, em 2007.

Tony Gilroy dirigiu e escreveu o filme 'O Legado Bourne', de 2012

A BBC perguntou a ele qual é a chave para escrever e ser bem-sucedido no centro da indústria cinematográfica americana. Estes são seus dez conselhos:

1. Consuma cinema

Não acho que se aprenda muito com cursos ou livros. Quem vai ao cinema desde pequeno encheu a vida de narrativas. É algo que está na área mais profunda do ser.
Ir ao cinema, ter algo a dizer, ter imaginação e ter a ambição de fazê-lo é realmente tudo o que se precisa. O resto se aprende.

2. Invente histórias, mas que sejam reais

Escrever roteiros é um trabalho de imaginação. Nós, os roteiristas, inventamos histórias. Tudo o que tenho na vida é resultado de ter inventado muita coisa.
Mas há algo que se deve compreender bem e que faz a diferença: o comportamento humano.
A qualidade da história está diretamente relacionada com a compreensão do comportamento humano. É preciso se transformar em um jornalista para o filme que está tentando criar em sua mente. É preciso investigar, fazer reportagens... cada cena tem que ser real.

3. Comece com uma ideia modesta

As grandes ideias não funcionam. Comece com uma ideia pequena que possa ser expandida.
Com a saga dos filmes Bourne, eu nunca li os livros (uma trilogia de Robert Ludlum), preferi começar do zero.

A premissa simples do personagem Jason Bourne é: "eu não sei quem sou, nem de onde venho, mas talvez eu possa me definir através do que sei fazer".
Construímos todo um universo a partir desta pequena ideia. Isso começa modestamente e vai sendo construindo passo a passo. É assim que se escreve um filme para Hollywood.

4. Aprenda a conviver com a sua invenção

Meu pai era roteirista, mas não existe um "gene criativo e boêmio" na nossa família.
Aprendi a observar o quão duro ele precisava trabalhar, e compreendi o tempo que rege a vida de um escritor. É preciso escrever nos momentos de inspiração.
Se você vive com outras pessoas, elas aprendem a não se assustar ou se queixar destes ritmos criativos.

5. Escreva para a TV

É cada vez mais difícil fazer filmes bons. Mas nas produções de televisão, é possível encontrar a ambiguidade e os tons cinza de realidade. É aqui que as histórias podem se tornar interessantes.
Muitos roteiristas estão bastante entusiasmados com a televisão no momento, e é um negócio controlado por escritores. Quando os roteiristas estão no comando, sempre há coisas boas na televisão.
Eles são mais racionais, trabalham mais duro e são mais benévolos também.
Quando os escritores comandam o entretenimento, o negócio funciona. Talvez agora vejamos a TV se convertendo em uma utopia guiada pelos roteiristas.

6. Aprenda a escrever em qualquer lugar, a qualquer momento

"Na minha carreira, já ocupei as duas posições do 'Kama Sutra de Hollywood': tanto por cima como por baixo."
Tony Gilroy, roteirista e diretor
Eu tenho um escritório na minha casa, mas já escrevi em milhares de quartos de hotel. É preciso escrever em toda a parte.
Se estou feliz com o que escrevo, não quero parar. Agora que sou mais velho e mais sábio, não me prendo ao fato de meus escritos estarem fluindo ou não. Telefono para casa, digo que não vou chegar para o jantar e sigo trabalhando.
Mais do que nada no mundo, eu desejo continuar tendo vontade de ir ao escritório, sem medo de trabalhar.

7. Consiga um emprego

Eu passei seis anos trabalhando em um bar enquanto tentava entender como escrever roteiros.
Se você quer escrever, se é jovem e ninguém o conhece, busque um trabalho que pague a maior quantia de dinheiro possível com a menor quantidade de horas possível, para que você tenha uma boa parte do dia para escrever.
Trate de viver em alguns lugares onde possa ter acesso a boas conexões culturais, onde possa ver muitos filmes e conhecer muitas pessoas. E trate de achar um lugar onde possa simplesmente escrever, escrever, escrever.

8. Viva a vida

Se você não tem nada para dizer e não viu nada mais do que um punhado de filmes, sobre o que você vai escrever? Só se pode contar aquilo que se conhece.
Busque se interessar por uma grande quantidade de coisas, temas e pessoas, e mantenha-se interessado. Meu conhecimento é muito amplo, ainda que incrivelmente superficial, porque não sinto falta de mais.
Costuma ser muito mais interessante uma história escrita por um jornalista, por um policial ou por um banqueiro do que algo vindo de alguém que estudou cinema por 20 anos.
Há exceções, é claro. Mas quase sempre é o caso de "se você não tem nada para dizer, para que está aqui"?

9. Não se mude para Los Angeles

Letreiro de Hollywood | Foto: AFP
Los Angeles não é um bom ambiente para jovens roteiristas, diz Gilroy
Eu não acho que exista um motivo de peso para se morar em Los Angeles (centro da indústria cinematográfica americana).
Eu acredito que L.A. é um lugar muito ruim para alimentar a mente. Em Los Angeles, as pessoas passam grande parte do tempo dentro de carros e rodeadas de outras pessoas deprimentes.
Não acredito que Hollywood seja uma boa vizinhança para um escritor jovem, isso não vai lhe ajudar a sentir qualquer tipo de emoção.

10. Resista e siga em frente

Na minha carreira, já ocupei as duas posições do "Kama Sutra de Hollywood": tanto por cima como por baixo.
É importante aprender a lidar com as quedas e rejeições. Acho que um dos motivos pelo qual os roteiristas são tímidos é que estamos todos sempre suspeitando dos nossos processos, já que ele fracassa com frequência.
Não é nada diferente do que acontece com romancistas, compositores ou pintores. Quando o mundo externo te rejeita, a pessoa decide superar isso ou deixar-se vencer.
Mas acredito que os dias mais difíceis são aqueles em que nada acontece. Todos os que já tentaram escrever alguma vez sabem bem do que estou falando.

O bom é que não há nada que não se cure com um bom dia de trabalho.

Webséries: novo nicho do mercado audiovisual


Texto de Raul Perez para http://redecemec.com.br

Séries feitas exclusivamente para a web estão ganhando a simpatia de diversas produtoras no país. Para realizadores que já produzem na dinâmica desse novo formato, desenvolver esse tipo de projeto é uma tarefa ao mesmo tempo árdua e prazerosa. “Por um lado, pelo fato de a websérie ser um formato relativamente novo, existe uma dificuldade em se acertar que tipo de série se adequa ao meio da internet. Por outro lado, essa dificuldade é também uma oportunidade para a experimentação de ideias, formatos, o que é muito positivo”, afirma Mabel Lopes.
Formada em Audiovisual pela Universidade de São Paulo, ela criou, roteirizou e dirigiu O Demônio Não Sabe Brincar, sobre uma mulher que enfrenta dramas pessoais e ainda é obrigada a encarar o tinhoso. A produção foi realizada com a ajuda do edital de fomento a webséries da prefeitura de São Paulo. Segundo Mabel, realizar uma série no formato representa o contato direto com os espectadores. "Com isso, você ganha informações preciosas sobre o que você fez certo e o que fez de errado, e pode usar esse conhecimento para fazer melhor no próximo trabalho", explica.

www.webserieschannel.com é especializado em séries online
Paulo Mavu, sócio da Mambo Jack, afirma que o maior desafio para as produções do gênero é encontrar anunciantes e parceiros financeiros. “O Brasil ainda investe pouco nesse tipo de mídia comparado a outros países”, comenta. A produtora realizou Lado Nix, uma das webséries brasileiras de maior repercussão no mundo virtual e fora dele, sobre uma garota geek que trabalha em uma loja de quadrinhos e usa a imaginação para driblar os problemas.
Mavu conta que a Mambo Jack investiu suas próprias economias na produção da série, muito por acreditar no novo formato. Mas a ideia sempre foi densenvolver a série em diversos canais.“Sempre imaginamos levá-la também para outras plataformas. Eu acho que cabe uma série assim na TV ou cinema. Mas sempre trabalhando com o formato rápido e mais curto da internet para contar histórias paralelas ou de outros personagens que não teriam tanto destaque na tela grande”, explica.
A narrativa transmídia é um conceito onde partes de uma mesma história são desenvolvidas em várias plataformas diferentes - como TV, internet e dispositivos móveis - criando um universo simbólico em torno da narração. “As pessoas não querem somente ver um vídeo na internet, elas querem compartilhar histórias, interagir com o personagem, baixar músicas, imagens, jogos, etc. Não dá mais pra pensar na internet como apenas uma plataforma de exibição alternativa em relação aos grandes distribuidores ou emissoras de TV. Tudo está integrado. Pensar desta forma é o grande desafio”, explica o diretor Guto Aeraphe.
Ele dirigiu a websérie “Heróis”, inspirada numa história real, que aborda a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A produção foi pensada para ser um média-metragem, para que o projeto se adaptasse à Lei Rouanet. “Mas infelizmente média é um formato muito ingrato, porque não é comercialmente viável nem para TV, nem para cinema. Então, analisando alguns números e hábitos do internauta brasileiro, percebi que o caminho era partir para o formato de websérie. Mesmo que a estrutura dramática do filme não fosse pensada para isso. Deu certo!”, comemora. 
Sobre a questão do financiamento, ele diz: “Se levarmos em consideração a teoria da cauda longa, vamos perceber que, apesar de ser um pouco mais complicado arrecadar fundos para produzir algo de qualidade por causa do alto custo que é o cinema, existe uma grande oportunidade de negócio. Cada vez mais empresas especializadas em transmissão de conteúdo audiovisual estão surgindo focadas em nichos de mercado e elas estão ávidas por conteúdo”. 

O cinema dos roteiristas

Texto de Álvaro de Moya* publicado em 2001 no Caderno de Cultura do Jornal Gazeta Mercantil
*Álvaro de Moya é escritor, produtor e diretor de cinema e televisão e professor aposentado da USP. Escreveu, entre outros, os livros Shazam! (Ed. Perspectiva, 1970), História da história em quadrinhos (Ed. Brasiliense, 1993) e O mundo de Walt Disney (Geração Editorial, 1996).

Existem muitos livros sobre diretores. Mas não existe um livro sequer sobre roteiristas de cinema. Alguns grandes roteiristas como John Howard Lawson, Dalton Trumbo, Cesare Zavattini e outros escreveram sobre o texto cinematográfico. Porém, uma obra sobre os melhores, nenhuma.
Há também a bíblia dos roteiristas brasileiros, o livreco de Syd Field – que jamais fez um roteiro de cinema – que ensina todos os chavões, clichês e lugares comuns dos filmes de Hollywood. Inclusive uma norma absurda, a reviravolta, jamais vista em clássico algum. Um completo equívoco. Tem gente por aqui que
leva a sério... Os roteiristas de cinema e TV, neste ano [2001], ameaçaram uma greve geral caso o nome deles continuasse em plano inferior, exigindo o mesmo tratamento dado aos diretores. Conseguiram. O roteirista Ernest Lehman foi homenageado, simbolizando os grandes escritores norte-americanos, na festa da Academia, ele que roteirizou Intriga internacional, Amor sublime amor, A embriaguez do sucesso, entre outros filmes importantes. Certos críticos de cinema também não ajudam. Só destacam os diretores. Como se eles tivessem total liberdade de filmar a história que quisessem! É sabido que Michael Curtiz, numa sexta-feira, recebia um comunicado interno dos chefões do estúdio para largar o filme que estava terminando e deveria rodar, a partir de segunda, outro filme. Nem lia os scripts! Muitos críticos – tal como Umberto Eco – não sabem separar o que é de interesse da produtora – e se ela é norte-americana, domina o mundo –, tampouco sabem o que é um argumento (escaleta), roteiro, diálogos, produção, direção, fotografia, bilheteria, marketing, promoção, divulgação, concessão ao gosto popular, efeitos especiais, interferência de Wall Street, dos bancos e picaretagem internacional. Por isso, embarcam em enganações, tipo Spielberg e George Lucas. 
O roteirista Dalton Trumbo

Por tentarem enganar os produtores e inserir qualidade nos textos, os roteiristas foram os mais perseguidos no macarthismo. A maioria dos presos e figurantes na famosa lista negra era de escritores. Hollywood sabe da importância do screenplay.

Alguns dos melhores roteiristas foram guindados a diretores: Billy Wilder, John Huston, Joseph L. Mankiewicz, Robert Rossen, Richard Brooks, Daniel Taradash, Lawrence Kasdan...  Roteiristas tiveram uma ou outra incursão na direção,como Ben Hecht e Dalton Trumbo, mas eram e continuaram escritores. Ben Hecht foi um dos Dalton Trumbo maiores, senão o maior de todos. Jornalista de Chicago, na caça às bruxas, recebeu uma cotação do FBI de cinco estrelas Stalin, tal como Chaplin. Este foi expulso para a Inglaterra. Mas os produtores não podiam prescindir de Hecht. Sua folha de serviço
inclui o primeiro Oscar de 1927/28, com o roteiro original de Paixão de Sangue, um dos primeiros filmes sobre gangsters, dirigido por Joseph Von Sternberg. Em 1931, um original seu, diversas vezes refilmado: A primeira página. No mesmo ano, Scarface – a vergonha de uma nação, com Paul Muni, direção de Howard Hawks. Em 1935, juntamente com o roteirista Charles MacArthur, ganhou o Oscar de história original com The scoundrel (não exibido no Brasil), dirigido pelos dois. Depois, em 1939, faria o belíssimo roteiro de O morro dos ventos uivantes, de William Wyler. Colaborou em diversas produções não creditadas, como E o vento levou. Este roteiro, assinado por Ben Hecht e Sidney Howard, ganhou o Oscar de 1939. O dramaturgo John Van Druten e o escritor F. Scott Fitzgerald também colaboraram, sem que seus nomes constassem dos letreiros.

Garson Kanin, dramaturgo, verteu para o cinema sua peça Nascida ontem (1950), que revelou Judy Holiday. Outro autor teatral, George Axelrod, teve obras vertidas para a tela, especialmente O pecado mora ao lado (1955), com Marilyn Monroe, e Em busca de um homem (1957), com Jayne Mansfield. Neste filme, um editor popular de pocket books decide publicar o clássico da literatura americana A letra escarlate, de Nathanael Hawthorne, e prefere mudar o título para A adúltera. O assessor, Tony Randall, revela que uma pesquisa demonstrou uma grande percentagem de norte-americanos que não sabia o que isso queria dizer. O editor desiste de publicar a obra...

Cartaz do filme Moby Dick

O escritor de ficção científica Ray Bradbury fez o roteiro do clássico Moby Dick (1956) para John Huston. Mas Orson Welles escreveu o sermão que interpretou, calcado no texto original de Herman Melville. John Steinbeck, Nobel de literatura, escreveu Um barco e nove destinos, de Hitchcock, e a versão de sua novela O pônei vermelho. F. Scott Fitzgerald não deu certo na Meca do Cinema como roteirista, mas seus romances sempre foram bem, como O grande Gatsby e Suave é a noite. William Faulkner se adaptou melhor como yes man em Hollywood, inclusive em Do destino ninguém foge, de 1955, e em À beira do abismo (1946), de Howard Hawks, do romance policial de Raymond Chandler. Lillian Hellman e Dashiell Hammett conseguiram manter seu nível literário e político nas produções em que participaram. Wladimir Nabokov também acertou, mas sem se meter em política. Gore Vidal começou como roteirista de TV adaptando Smoke Barn, de William Faulkner, e depois participou de diversos filmes como Ben-Hur (1959) e Calígula. Este foi o único filme a ter o nome do escritor, até então (tal como Fellini em seus filmes), no título: Gore Vidal’s Caligula. Outros escritores, como Norman Mailer, John Le Carré, Booth Tarkington, Upton Sinclair e Irwin Shaw (Guerra e Paz, 1956), também trabalharam no cinema.
O autor de Mas não se mata cavalos?, Horace McCoy, assinou o roteiro de Paixão de bravo, em 1952.
Os dramaturgos Robert E. Sherwood (O libertador, 1939), Maxwell Anderson (A Floresta petrificada, 1936), William Inge, Robert Bolt, Arthur Miller (Os desajustados, 1961), Christopher Isherwood, Clifford Odets (Conflito de duas almas, 1939, e Apenas um coração soIitário, 1944; sua peça The big knife foi dirigida em 1955 por Robert Aldrich, com roteiro de James Poe: A grande chantagem), Eugene O’Neill, Sam Shepard, Bertolt Brecht, todos colaboraram em scripts para Hollywood nos bons tempos.

Os autores de teleteatros clássicos ao vivo nos anos 1950, início da TV de Nova York, não fizeram feio, pelo contrário, ao partir para a telona. Paddy Chayefsky, ao verter sua telepeça Marty (1955), ganhou o Oscar e, pela primeira vez, um filme americano venceu a Palma de Ouro em Cannes, na França, quebrando a hegemonia dos europeus. Depois escreveu outros filmes premiados como Hospital, Oscar de 1971, e Rede de intrigas, Oscar de 1976. Rod Serling verteu para o cinema sua peça de TV Réquiem para um lutador (1962). Adaptou o livro de Pierre Boule, o primeiro e único Planeta dos macacos (1967). E, entre outros trabalhos, destaca-se a série para a telinha, depois filmes de episódios, Além da imaginação. Horton Foote, também oriundo da TV ao vivo, ganhou o Oscar em 1962, com O sol é para todos e, em 1983, com A força do carinho. Reginald Rose adaptou para Hollywood sua peça televisiva Doze homens e uma sentença (1957), estréia de Sidney Lumet na direção. J. P. Miller também veio da TV.

Dos quadrinhos, o assistente do Will Eisner, Jules Feiffer, escreveu Ânsia de Amar e Pequenos Assassinatos – ambos em 1971 – e Popeye, em 1980. Frank Miller, que revolucionou os comics com a versão Batman, o cavaleiro das trevas, influenciou o visual da série do homem morcego nas telonas, mas foi menos feliz no veículo cinema, roteirizando Robocop 2, 3, etc.

Charles Brackett era o parceiro de Billy Wilder em 1945, quando ganhou o Oscar com Farrapo humano. E, em 1950, com Crepúsculo dos deuses. Sozinho, em 1953, levou a estatueta de roteiro com Náufragos do Titanic e, depois, um Oscar especial. Foi coautor de Onze homens e um segredo, primeira versão. Billy Wilder, desde então, uniu-se ao romeno ltak Domminici que usa o pseudônimo de I. A. L. Diamond e  juntos ganharam o Oscar com Se meu apartamento falasse, em 1960. Ele já tinha escrito sozinho Loucos de amor, um dos primeiros filmes de Marilyn Monroe. Depois, se juntaram na comédia clássica Quanto mais quente melhor, de 1959. O filme termina com uma das mais famosas frases do cinema: “Ninguém é perfeito”. D. M. Marshman Jr. tinha ganhado o Oscar em 1950, como coautor de Crepúsculo dos Deuses, usando seu conhecimento de ex-jornalista. As grandes tiradas cínicas de William Holden são dele. Ele e Daniel Fuchs tinham escrito o roteiro de uma pequena obra-prima: O gângster (1947), última incursão na direção de Gordon Wiles, diretor de arte premiado com o Oscar em Náufragos do Titanic (também fizera a direção de arte de Vidocq e O retrato de Dorian Gray). Um dos primeiros filmes a relacionar gangsterismo com capitalismo. Daniel Fuchs ganhou o Oscar em 1955 com Ama-me ou esquece-me.
Já Budd Schulberg relacionou sindicalismo e gangsterismo em Sindicato de ladrões, de Elia Kazan, Oscar de 1954. Esta obra foi criticada, inclusive por Arthur Miller, por endeusar a delação nos tempos do macarthismo. Schulberg tinha escrito um romance contra os produtores de Hollywood: O que faz Sammy correr? Hal Smith, juntamente com Nathan E. Douglas, ganhou o prêmio da Academia em 1958, com Acorrentados. Antes, escrevera, com Kenneth Gamet, um pequeno grande filme: A Centelha, em 1948. Um trio no western: dois homens e uma mulher. E um cavalo, todos perdidos no deserto. Talvez o roteiro cinematográfico mais perfeito da história do cinema seja de Art Cohn em Punhos de Campeão (1949), da RKO, inspirado num poema de Joseph Moncure Marsh. O tempo de projeção da película, de 72 minutos, é igual ao tempo da ação dessa obra máxima sobre o boxe. Quando exibida na TV, é interrompida pelos comerciais, e tudo se perde. Mas, além de todas as qualidades da produção, é uma eloqüente análise da
violência entre os homens. Seu final triste foi vaiado pelo público na noite de estréia no Cine Bandeirantes, no Largo do Paissandu, em São Paulo. 

Cartaz de "Punhos de campeão"

Art Cohn morreu num desastre de avião, junto com o produtor Michael Todd, sobre o qual escrevia uma biografia. Deve ter tido uma participação não creditada em A volta ao mundo em 80 dias, Oscar de 1956. Cidadão Kane foi injustiçado no Oscar de 1941. Ouviram-se alguns “buuus” quando o filme foi anunciado como indicado para melhor filme, fotografia, música, ator, diretor etc. Só levou o melhor roteiro original, de Welles e Herman Mankiewicz (irmão de Joseph L. Mankiewicz). Orson jamais foi buscar essa estatueta. O jornalista Paulo Duarte, de O Estado de S. Paulo, viu-a como peso para manter uma porta aberta da Cinemateca de Nova York.

Uma mulher roteirista, Francis Marion, levou dois Oscars em seguida, em 1929/30 e 1931/32, respectivamente com O presídio e O campeão, do mestre King Vidor (devidamente massacrado por Franco Zefirelli em 1979). Marion Parsonnet produziu um roteiro brilhante para Gilda (1946). Segundo o estudioso francês Georges Sadoul, esse sucesso de bilheteria de Charles Vidor teria dupla leitura. O vilão George McReady é apaixonado pelo mocinho Glenn Ford e joga sua esposa Rita Hayworth nos braços dele. O dono do cassino introduz seu novo assistente nos aposentos particulares e luxuosos e pergunta para Gilda: “Are you decent?” Frances Goodrich sempre trabalhou com seu marido, Albert Hackett. Vindos da Broadway, escreveram brilhantemente diversos musicais, entre eles, talvez, o melhor de todos: O pirata (1948). Já Cantando na chuva (1952) foi roteirizado por Betty Comden e Adolph Green. Joan Harrison, além de produtora dos primeiros filmes americanos de Hitch, como Rebeca (1940), colaborou em seus roteiros. Sonya Levien co-adaptou O corcunda de Notre Dame (1939), de William Dieterle, com Charles Laughton. E ganhou o Oscar de 1955 com Melodia interrompida. Eleanore Griffin escreveu Imitação da vida, de 1959. As escritoras Anita Loos e Booth Tarkington colaboraram em vários de seus livros adaptados para o écran, assim como Claudine West. Edmund H. North fez o roteiro da ficção científica O dia em que a Terra parou (1951), drama pacifista de antevisão de avanços tecnológicos, alguns até hoje sem descoberta, como a cura do câncer e a ressurreição. Eugene Solow adaptou para o cinema, em 1939, a primeira versão de Ratos e homens, de John Steinbeck – e Horton Foote fez a honesta versão da mesma obra em 1992, dirigida por Gary Senise. 

Daniel Taradash, que tinha ganhado o Oscar de 1953 com A um passo da eternidade, desafiou a caça às bruxas escrevendo O despertar da tormenta, no qual Bette Davis faz uma bibliotecária que enfrenta a censura tentando banir livros subversivos de sua biblioteca. Em 1954, Philip Yordan levou a estatueta em A lança partida. O excelente James Poe colaborou em A volta ao mundo em 80 dias, Oscar 1956. E fez os roteiros de dois grandes filmes de Robert Aldrich: A grande chantagem (1955), e Morte sem glória, adaptado da peça teatral Fragile fox, ambos com Jack Palance. O Pentágono rejeitou colaborar com esta obra antibélica. Carl Foreman escreveu Matar ou morrer em 1952, sabendo que ia para a lista negra. Então colaborou no roteiro de A ponte do Rio Kwai tendo seu nome cortado dos créditos. Lamar Trotti levou o Oscar de 1944 com Wilson. Abby Mann escreveu O julgamento de Nuremberg, Oscar em 1961. Steve Tesich, em 1979, escreveu – e levou para casa a estatueta – o delicado e político O vencedor. A Academia fez jus ao premiar Mark Peploe, em 1977, com O último imperador. Ele voltaria a brilhar em Os imperdoáveis, de Clint Eastwood, desmistificando o western. Também acabou com o mito do herói americano tipo Frank Capra, em Herói por acidente (1992), interpretado por Dustin Hoffman. Richard Matheson é um injustiçado. Escreveu, em 1971, Encurralado, estréia de Steven Spielberg no cinema. Criou o terror em A casa da noite eterna e seu romance Em algum lugar do passado estourou nas bilheterias. Em geral, seus roteiros superam a direção. Já escritores de renome em sua época sumiram e perderam o prestígio, mesmo tendo escrito para John Ford, como Philip Dunne, James Agee, Sidney Bohem, Nunnaly Johnson, Dudley Nichols e outros. Calder Willingham adaptou para Stanley Kubrick Glória feita de sangue e, para a bela e única direção de MarIon Brando, o western original A face oculta. 

Os escritores da “fábrica dos sonhos” sempre foram discriminados. No restaurante dos estúdios da Metro ficavam isolados, sugestivamente à esquerda. Durante a Guerra Fria, diversos roteiristas foram presos ou para lista negra. Michael Wilson morava na casa do autor de A ponte do Rio Kwai, seu amigo Pierre Boule, e colaborou sem ter crédito. Em 1951, Wilson vencera o Oscar com Um lugar ao sol, baseado no livro Uma tragédia americana, de Theodore Dreiser. Em 1956, seu nome foi cortado dos letreiros de Sublime tentação. Em 1963, na lista negra, escreveu um filme marginal produzido pelos mineiros do Novo México, Sal da Terra. Foi dirigido por outro banido, Herbert Biberman, cuja esposa, a atriz Gale Sondergaard, não encontrava trabalho. Ring Lardner Jr., filho do grande escritor Ring Lardner, só conseguiu assinar em 1970, ganhando o Oscar com MASH. Dalton Trumbo conseguira, apelando para a Corte Suprema, restaurar seu nome em Hollywood. Tinha ganhado o Oscar usando o testa-de-ferro Ian McLellan Hunter no filme A princesa e o plebeu, em 1953. Ganhou outro Oscar com Arenas sangrentas com o falso nome de Robert Rich. No ano de 1961, Dama por um dia. Em 1965, Adeus às ilusões. Trumbo tinha um romance: Johnny got his gun. Convidou Buñuel para dirigir a versão fílmica, mas o espanhol não pôde. Então Dalton mesmo realizou Johnny vai à guerra. Sua lista de filmes importantes é imensa. Escreveu Kitty Foyle para Sam Wood, em 1940. Em 1950, O cúmplice das sombras, para Joseph Losey. Em 1960, diversos filmes: Exodus, de Otto Preminger, Spartacus, de Stanley Kubrick, e Sua última façanha, de David Miller. Em 1965, Havaí, de George Roy Hill, e em 1968, O homem de Kiev, de John Frankenheimer. Quando Trumbo estava atrás das grades, encontrou J.Parnell Thomas, o inquisidor de Hollywood, condenado por se apropriar de verbas do senado. Este era o patriota que julgava os antiamericanos.

O Senador  estadunidense Joseph McCarthy

Waldo Salt voltou do esquecimento com Perdidos na noite, ganhando o Oscar em 1969. Em 1978, de novo vencedor com Amargo regresso. Stanley Shapiro ganhou o Oscar em 1959 com Confidências à meia-noite e roteirizou Anáguas a bordo (1959). Quando a Associação dos Roteiristas fez uma cerimônia para homenagear os perseguidos de então, Shapiro estava Iá. E, no dia seguinte, morreu num acidente de carro. Os escritores que tiveram problemas, entre outros, foram Dashiell Hammett e Lillian Hellman, sua companheira, Hal Smith, Alvah Bessie, Albert Maltz (Alma torturada, de Frank Tuttle, 1942; Rumo a Tóquio, de Delmer Daves, 1943; O grande segredo, de Fritz Lang, 1946; e Cidade nua, de Jules Dassin, 1948), Samuel Ornitz, Lester Cole e John Howard Lawson (Bloqueio, de William Dieterle). O caso curioso é de Howard Koch, que roteirizara A guerra dos mundos, o famoso programa de rádio de Orson Welles. Tinha escrito Casablanca (com a famosa frase: “play it, Sam”) e Carta de uma desconhecida, adaptado de Stefan Zweig. Ia para Nova York trabalhar num roteiro quando o chefão do estúdio, Jack L. Warner, encomendou a ele um filme de boa vizinhança sobre o heroísmo dos parceiros na luta contra o nazismo, o Exército soviético. Koch objetou que não teria tempo. O chefão contratou uma secretária para ele ditar o roteiro no trem Los Angeles-Nova York. O roteirista acabou se casando com a secretária. Na caça às bruxas, Jack L. Warner denunciou Howard Koch por ter feito um filme glorificando os comunistas. Muy patrão! Recentemente, levantou-se a hipótese de haver um ranço de anti-semitismo, pois a maioria dos perseguidos era de judeus. Esse período da lnquisição passou. Agora, nem é mais necessário usar forças externas. Wall Street domina a indústria do entretenimento e quer ver apenas lucros e o Oscar é usado não mais para premiar grandes filmes, diretores ou roteiristas e sim para auferir mais lucros. Hollywood da Fábrica dos Sonhos virou fabriquinha de imprimir dólares.

A primeira fita européia a ganhar um Oscar na categoria roteiro original foi suíça, revelando o escritor Richard Schweizer: Maria Luiza. A ltália tem alguns dos melhores roteiristas do mundo. Cesare Zavattini é um deles. Mestre do neo-realismo, junto com o diretor Vittorio De Sica desde Vítimas da tormenta (Oscar 1947), passando por Ladrões de bicicleta (Oscar 1949), continuando com Milagre em Milão (1950), O teto (1955), Umberto D, Duas mulheres (Oscar de 1961 para Sophia Loren), até O jardim dos Finzi Contini, que levou o Oscar de 1971. Também roteirizou Quando a mulher erra e Ontem hoje e amanhã.
Com outros diretores, escreveu O coração manda (1942), de Blasetti; Trágica perseguição (1947), de De Santis; É primavera (1949), de Castellani; Três dias de amor (1949), de René Clément; O capote, versão do conto de Nicolai Gogol, para Lattuada, em 1952; e Adeus às armas, versão de Hemingway para Charles Vidor, em 1958. Zavattini teve participação importante na era de ouro do cinema italiano. No mesmo nível, Sergio Amidei: do início do neo-realismo até o moderno Casanova e a revolução. Foi um dos roteiristas de Roma, cidade aberta, de 1945, e colaborou em diversos filmes importantes desse período. Ontem, hoje e amanhã abiscoitou o Oscar de 1964 como melhor filme estrangeiro. Também colaborou em Vítimas da tormenta, de De Sica, Paisà, de Rossellini em 1946 e, com o mesmo diretor, Die Angst (1954) e Era noite em Roma (1961).
Um grupo de roteiristas italianos conseguiu furar a barreira protecionista do Oscar, saindo do gueto. Grandes escritores como Alberto Moravia, Mario Soldati, Mario Camerini, Tulio Pinelli e Ennio Flaianno (A trapaça), Franco Solinas (Queimada, com Marlon Brando), Ugo Pirri (Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita), Patroni-Griffi, Massimo Mida e Furio Scarpelli assinaram obras no cinema da ltália. Luciano Vincenzoni é autor de diálogos brilhantes. E a maior roteirista do mundo é Suso Cecchi D’Amico, que trabalhava com Luchino Visconti. Todos esses e outros fazem do soggetto e da sceneggiatura uma base internacional do cinema autoral.

Cena do filme "Ladrão de bicicleta"

A França, tal coma a ltália, tem grandes roteiristas e escritores. O poeta Jean Cocteau realizou A bela e a fera, em 1946. Os escritores Marcel Aymé, Jacques Companeez, Sacha Guitry, André Malraux, Marcel Pagnol, todos beneficiados com o apoio que a França dá a seus intelectuais, puderam escrever e dirigir filmes. Até Pablo Picasso trabalhou em roteiros de filmes. E Salvador Dali colaborou no primeiro filme de Buñuel: Um cão andaluz. Marc Allégret foi roteirista até virar diretor para lançar Brigitte Bardot. Jean Aurenche, dos mais prolíficos escritores da França, roteirizou Sinfonia pastoral para Jean Dellanoy. Em 1936 escreveu O demônio da Algéria para Julien Duvivier. No ano seguinte, Um carnet de baile para o mesmo diretor. Em 1938, Hotel do Norte, para Marcel Carné; Fan-Fan La Tulipe, em 1952, para Christian- Jacque; e O mordomo, para Delannoy em 1964. Em 1965, para Clément, Paris está em chamas? Para Clément tinha escrito Gervaise, a flor do lodo, de Emile Zola. A parceria com Pierre Bost começou em 1942, com Lettres d’Amour; em 1946, escreveram o clássico Sinfonia pastoral e trabalharam para o prestigiado diretor Claude Autant-Lara em Adúltera (1947) e em O vermelho e o negro, o clássico romance moderno de Stendhal. Em 1950 Deus necessita de homens e, em 1952, outro grande filme, Brinquedo proibido. Em 1956 A travessia de Paris. E escreveram para Brigitte Bardot Amar é minha profissão, em 1958. Jean-Claude Carrière roteirizou os últimos filmes de Buñuel na França, inclusive O diário de uma camareira e A bela da tarde. Jean Louis Richard roteirizou para François Truffaut. Marguerite Duras, antes de dirigir, escreveu Hiroshima, meu amor para Alain Resnais. E do mesmo diretor, O ano passado em Marienbad, do escritor Alain Robbe-Grillet, criador do nouveau roman.

Charles Spaak foi, provavelmente, o roteirista mais importante do cinema francês. Começou em 1930 com La petite Lise e, em 1934, Pension Mimosas; então o clássico A bandeira, em 1935. No mesmo ano, A quermesse heróica e Camaradas. Em 1937, o clássico A grande ilusão. E a série de roteiros para Cayatte sobre a (in)justiça: começando com Direito de matar (1950), incluindo Somos todos assassinos. Pai da atriz Catherine Spaak, descoberta por Lattuada. Em 1947, Jean-Paul Sartre verteu Les jeux son faites para o cinema e, em 1957, fez o roteiro da versão francesa da peça teatral de Arthur Miller As feiticeiras de Salem, dirigido por Raymond Rouleau. Seu roteiro para Freud, além da alma, dirigido por John Huston, foi recusado. O autor de bandes dessinées René Goscinny já tinha morrido quando a sua criação virou a superprodução Astérix. Mas trabalhou em diversos roteiros divertidos, seja em longasmetragens seja em desenho animado. O poeta Jacques Prevert começou em 1935 com Le crime de Monsieur Lage. No ano seguinte, Jenny e, em 1937, Família exótica. No ano posterior, O mistério do colégio. Nesse mesmo período, Cais das sombras. Em 1939, Trágico amanhecer. De 1939, terminado em 1941, Águas tempestuosas. Em 1942, Lumière d’été mais o clássico Os visitantes da noite, e sua continuação (1944/45) O boulevard do crime. Em 1949, Os amantes de Verona. Em 1950 escreveu e narrou os comentários de Bim, filme de Albert Lamorrise. Jorge Semprún, escritor espanhol banido por Franco, radicado na França, roteirizou o filme político Z (1968), de Costa-Gavras e, juntos também, Estado de sítio (1973), além do filme de Alain Resnais A guerra acabou. 

Na Inglaterra o prêmio Nobel George Bernard Shaw ganhou o Oscar, em 1938, por ter adaptado sua peça teatral Pigmalião. Anos depois, em 1964, sua versão musical Minha bela dama levou oito estatuetas. Quando GBS recebeu o Nobel, em 1925, com sua ironia de sempre, declarou que naquele ano não tinha escrito nada. Acrescentou ter entendido a indireta, mas continuava a escrever suas peças desagradáveis mesmo assim.

George Bernard Shaw

Os ingleses Graham Greene, Noel Coward e Terence Rattingan (O príncipe encantado) colaboraram com o cinema. Destaque para o dramaturgo Harold Pinter que roteirizou os filmes ingleses de Joseph Losey (Estranho acidente, O mensageiro e O criado), na melhor fase desse diretor após ter sido banido de Hollywood. O cinema britânico deve muito a T.E.B. Clarke – que ganhou o Oscar em 1952 com O mistério da torre, revelando Alec Guinness –, numa série de comédias excepcionais com um humor que só os ingleses sabem fazer. As produções da Ealing emplacaram uma plêiade de comédias, As oito vítimas (1949), dirigida por Robert Hammer, onde Alec Guinness fazia oito papéis diferentes. E, dirigido por Mackendrick, O homem do temo branco (1951). A série terminou com O quinteto da morte (1955), também dirigido por Mackendrick. Emeric Pressburger ganhou, nos EUA, a estatueta da Academia com a história original lnvasão de bárbaros, em 1942.

O escritor alemão Erich Maria Remarque teve seu romance pacifista Nada de novo no front, filmado em Hollywood por Lewis Milestone em 1931. O cinema japonês teve Kaneto Shindo como co-roteirista, junto com Matsubaro Kawaguchi, de um dos maiores filmes da história do cinema, Contos da lua vaga, antes de se tornar diretor de obras-primas corno a Ilha nua (premiado em Moscou), Onibaba e outros grandes filmes. Shinobu Hashimoto escreveu Os sete samurais, de Akira Kurosawa, que foi também vertido para o
cenário western em Hollywood. Takeshi Shimura, Hideo Oguni e outros roteiristas ajudaram os diretores japoneses a adquirirem um grande prestígio no Ocidente.

É preciso ver os clássicos da Sétima Arte que perduram e comparar com filmes que, à sua época, impressionaram e hoje envelheceram, ficaram datados e servem apenas para retratar os interesses de uma época. Há uma diferença fundamental entre filme acadêmico e clássico. O mercado, os grandes estúdios, os produtores independentes, os astros da hora, os bancos, Wall Street, a Bolsa, o Oscar, o judaísmo, o patriotismo, a guerra do momento, tudo isso é que determina uma realização


As 36 situações dramáticas de Georges Polti





Georges Polti, 1868-1946, foi um escritor francês, crítico literário e de teatro. Suas publicações mais conhecidas são as Trinta e Seis Situações Dramáticas (a qual resumimos abaixo) e A Arte de Inventar Personagens. Fonte  Wikipedia






(1) Implorar;
(2) o Salvador;
(3) a Vingança que persegue o crime;
(4) Vingar parente por parente;
(5) Acuado;
(6) Desastre;
(7) Vítima de;
(8) Revolta;
(9) Tentativa audaciosa;
(10) Rapto;
(11) o Enigma;
(12) Conseguir;
(13) Ódio de parentes;
(14) Rivalidade com parentes;
(15) Adultério mortal;
(16) Loucura;
(17) Imprudência fatal;
(18) Crime de amor involuntário;
(19) Matar um parente ignorado;
(20) Sacrificar-se pelo ideal;
(21) Sacrificar-se pelos parentes;
(22) Sacrificar tudo pela paixão;
(23) Ter que sacrificar a família;
(24) Rivalidade entre desiguais;
(25) Adultério;
(26) Crimes de amor;
(27) Ser informado da desonra de um ser amado;
(28) Amores proibidos;
(29) Amar um inimigo;
(30) a Ambição;
(31) Luta contra Deus;
(32) Ciúme equivocado;
(33) Erro judiciário;
(34) Remorso;
(35) Reencontrar;
(36) Perder a família.




A escrita criativa por Kurt Vonnegut Jr.

Trechos da entrevista publicada no livro "Os Escritores"

Pergunta: Acha realmente que a arte de escrever de forma criativa pode ser ensinada?

VONNEGUT: Mais ou menos da mesma maneira que o golfe pode ser ensinado. Um profissional pode apontar falhas óbvias no seu modo de mover o taco. (...) Sei apenas a teoria.

Pergunta: Poderia expor a teoria em poucas palavras?

VONNEGUT: Ela foi formulada por Paul Engle, o fundador da Oficina de Escritores em Iowa. Ele me disse que, se a oficina um dia arrumasse um prédio próprio, estas palavras deveriam ser inscritas sobre a entrada: "Não leve isso tudo a sério".

Pergunta: E como isso poderia ajudar?

VONNEGUT: Faria os estudantes se lembrarem que estavam aprendendo a fazer brincadeiras. Se você faz as pessoas rirem ou chorarem por causa de pequenas marcas negras em folhas de papel branco, o que é isso a não ser uma brincadeira? Todas as grande linhas básicas de histórias são grandes brincadeiras nas quais as pessoas caem continuamente.

Pergunta: Pode dar um exemplo?

VONNEGUT: O romance gótico. Dezenas de coisas são publicadas todo ano e todas vendem. Meu amigo Borden escreveu recentemente um romance gótico apenas por diversão. Eu lhe perguntei qual era o enredo e ele disse: "Uma jovem arruma um emprego em uma casa velha e depois fica morrendo de medo lá dentro".

Pergunta: Mais alguns?

VONNEGUT: Os outros não são tão engraçados de se descrever. Alguém entra em apuros e depois escapa; alguém perde alguma coisa e a recupera; alguém é enganado e se vinga; Cinderela; alguém começa a andar para trás e a sua situação só piora cada vez mais; duas pessoas se apaixonam e outras atrapalham; uma pessoa virtuosa é falsamente acusada de um delito; uma pessoa má é julgada virtuosa; uma pessoa encara um desafio com bravura e tem sucesso ou não; uma pessoa mente; uma pessoa rouba; uma pessoa mata; uma pessoa pratica fornicação.

Pergunta: Me desculpe, mas esses são enredos muito antigos.

VONNEGUT: Eu lhe garanto que nenhum esquema de histórias modernas, mesmo sem enredo, dará a um leitor satisfação genuína, a menos que um destes enredos antigos seja introduzido em algum lugar. Não valorizo enredos como representações precisas da vida, mas como maneiras de manter o leitor lendo.

Quando eu ensinava redação criativa, dizia aos meus alunos para fazer com que seus personagens quisessem algo logo, mesmo que fosse apenas um copo d'água. Até personagens paralisados pela falta de sentido da vida moderna têm que beber água de tempos em tempos. (...) Quando você exclui o enredo, quando exclui alguém que deseje alguma coisa, você exclui o leitor, o que é uma atitude mesquinha. Você também pode excluir o leitor não contando imediatamente onde a história se desenrola e quem são estas pessoas. E você pode fazê-lo dormir se não colocar os personagens em confronto uns com os outros. Estudantes gostam de dizer que não apresentam conflito em seus textos porque as pessoas evitam conflitos na vida moderna. "A vida moderna é tão solitária...". Isso é preguiça. É o trabalho do escritor apresentar conflitos, para que os personagens digam coisas surpreendentes e reveladoras, eduquem e divirtam a todos nós. Se um escritor não sabe ou não quer fazer isso, deveria retirar-se do negócio.

CASABLANCA, OU O RENASCIMENTO DOS DEUSES



trechos do texto de Umberto Eco publicado em "Viagem na irrealidade cotidiana"


"O filme já começa num lugar mágico de per si, o Marrocos, o Exótico, inicia com um quê de melodia árabe que se esfuma na Marselhesa. Quando entra para o ambiente de Rick, ouve-se Gershwin. África, França, Estados Unidos. A essa altura entra em cena um emaranhado de Arquétipos Eternos. São situações que presidiram as histórias de todos os tempos. Mas habitualmente para fazer uma boa história basta uma única situação arquetípica. E sobra. Por exemplo: O Amor Infeliz. Ou A Fuga. Casablanca não se contenta: coloca todas. A cidade é o local de uma Passagem, rumo à Terra Prometida. Para passar, porém, é necessário submeter-se a uma prova, A Espera ("esperando, esperando, esperando", diz a voz off no começo). Para passar do vestíbulo de espera à Terra Prometida, é preciso uma Chave Mágica: o visto. Em torno da Conquista desta chave desencadeiam-se as paixões. A mediação da chave parece ser feita pelo Dinheiro (que aparece em diversas cenas, geralmente sob a forma de Jogo Mortal, ou roleta): mas por fim se descobrirá que a chave somente pode ser dada através de um Dom (que é o dom do visto, mas é também o dom que Rick faz de seu Desejo, sacrificando-se) Porque esta é também a história de um turbilhão de desejos, dos quais apenas dois acabam sendo satisfeitos: o de Victor Laszlo, o herói puríssimo, e o do casalzinho búlgaro. Todos aqueles que têm paixões impuras fracassam. E então, outro arquétipo, triunfa A Pureza. Os impuros não chegam à terra prometida, somem antes; no entanto realizam a pureza através do Sacrifício: é a Redenção".


(...)


"Em torno dessa dança de mitos eternos estão os mitos históricos, ou seja, os mitos do cinema devidamente revisitados. Bogart personifica pelo menos três deles: o Aventureiro Ambíguo, misto de cinismo e generosidade; o Asceta por Desilusão Amorosa e ao mesmo tempo o Alcoólatra Redimido. Ingrid Bergman é a Mulher Enigmática ou a Mulher Fatal. Em seguida há Ouça Querido a Nossa Canção, o Último Dia em Paris, a Legião Estrangeira (cada personagem tem uma nacionalidade diferente) e finalmente o Grande Hotel Gente-Que-Vai-Gente-Que-Vem. (...) De modo que Casablanca não é um filme, é muitos filmes, uma antologia. E por isso funciona, a despeito das teorias estéticas e das teorias filmográficas. Porque nele se desdobram, em força quase telúrica, as Potências da Narratividade em estado selvagem, sem que a Arte intervenha para disciplinar.

"E então podemos aceitar que as personagens mudem de humor, de moralidade, de psicologia, de um momento para o outro, que os conspiradores pigarreiem para interromper a conversa quando se aproxima um espião, que as mocinhas de vida fácil chorem ao ouvir a Marselhesa.

"Quando todos os arquétipos irrompem sem decência, são atingidas profundidades homéricas. Dois clichês provocam riso. Cem clichês comovem. Porque se percebe obscuramente que os clichês falam entre si e celebram uma festa de reencontro. Como o cúmulo da dor encontra a volúpia, o cúmulo da banalidade deixa entrever uma suspeita de sublime".

Para quê serve um dramaturgo?



Segundo Aristóteles dramaturgia é a arte de estruturar os atos humanos logicamente, visando despertar intensas paixões ou uma condição de extremo encantamento, êxtase.

Para nos aprofundamos sobre a definição de Aristóteles vamos dar uma olhada na etimologia de alguns termos importantes para definir qual a serventia de um dramaturgo:

DRAMA – do Grego drama, “ação, feito” (especialmente relativo a algum grande feito, fosse positivo ou negativo), de dran, “fazer, realizar, representar”;

DRAMATURGO – do Grego dramatourgόs, composto por dramatos (relativo à drama) e ergon, literalmente “trabalho”;

PEÇA – do Francês antigo pièce, do Frâncico pettia, “medida, porção, parte”;

TEATRO – do Latim theatrum, do Grego theatron, literalmente “lugar para olhar”;

CINEMA – do Grego kinema, “movimento”, de kinein, “mexer, deslocar, movimentar”;

PAIXÃO – do Grego pathe, “sentir”;

ÊXTASE – do Grego ekstasis, “estar fora de si”. Estado causado uma emoção forte, em que o indivíduo se sente transportado para fora de si próprio, elevado a realidades que ultrapassam o sensível;

EXPECTADOR - do latim spectator, “aquele que assiste”.

Modernizando a definição dado por Aristóteles, de forma livre, poderíamos dizer que:

Dramaturgia é a arte de transformar um drama (ação, feito) humano em peça (porção, parte), a ser exposta “em movimento” em um “lugar para olhar” (teatro, cinema, TV, internet), visando despertar sentimentos e/ou reflexões naquele que assiste.

Logicamente o dramaturgo é aquele que cria a dramaturgia, conforme a definição de Aristóteles ou conforme nossa livre adaptação, e desta forma podemos começar a responder à pergunta inicial: Para quê serve um dramaturgo?

1) Serve para transformar um drama em peça.
Observe que não se afirma que o dramaturgo serve para criar um drama, ou criar uma peça. O ato de criação é função do autor. Normalmente o dramaturgo é também o autor, porém esta não é uma condição necessária. Quando, por exemplo, o dramaturgo adapta uma obra literária não é ele o autor, ele apenas transforma em peça dramatúrgica o drama original fornecido pela obra literária.
2) Serve para identificar o drama.
Voltando ao exemplo da adaptação de uma obra literária, o dramaturgo não pode simplesmente transpor a narrativa literária, ele deve primeiro identificar quais são os dramas desenvolvidos por aquela narrativa.

            3) Serve para transformar uma idéia em drama e este drama em peça.
Como já dito o dramaturgo pode ser também o autor, e para tanto a idéia contida na peça deve ser dele. Entretanto, diferentemente da adaptação e da autoria, o dramaturgo pode também trabalhar sob um objetivo, ou idéia original, que lhe é dado por terceiros. Como exemplos temos os trabalhos publicitários, onde o objetivo é dado pelo cliente (o fabricante, a agência, o criativo…) e partindo do que é dado o dramaturgo cria o drama e concebe a peça.

            4) Serve para orientar, ou corrigir, peças não necessariamente dramáticas (um show musical, um programa de auditório, uma palestra…) que necessitem de uma estruturação dramatúrgica.
A estrutura dramatúrgica permite que se desenvolva inicio, meio e fim de forma a manter a empatia daqueles que assistem, evitando o eventual desinteresse ou  desgaste prematuro da apresentação.

O dramaturgo é um profissional técnico, é aquele que conhece as técnicas dramatúrgicas e através delas atinge determinado fim. A confusão, que é corrente, entre autor e dramaturgo acaba por esconder as reais funções deste profissional e também por desqualificá-lo. Quando consideramos que um autor (de teatro, cinema, TV), sem conhecimentos técnicos de dramaturgia, é um dramaturgo ou roteirista (o qual deve ter as mesmas qualificações do dramaturgo e mais algumas tangentes a aspectos audiovisuais) nós estamos vulgarizando os termos e desqualificando as respectivas profissões. Um cozinheiro, sem conhecimento técnico de ingredientes, utensílios e etc. pode sim fazer bons pratos, mas não poderá ser chamado de Chef, o mesmo deve ocorrer com autores e Dramaturgos/Roteiristas. Só desta forma as utilidades de um dramaturgo passarão a ser mais utilizadas e compreendidas.

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