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A ideia central


A ideia central é (ou deveria ser) o motor de qualquer obra artística autoral. Entretanto é comum verificar que muitos trabalhos artísticos não estão fundamentados em uma ideia central. Mas afinal o que seria esta tal “ ideia central”?
A idéia central nada mais é do que a opinião que o autor tem sobre determinado tema, fato, e etc.. Embora a idéia central seja o pilar da construção dramaturgica, ela não é necessariamente de responsabilidade do dramaturgo, e neste ponto é importante colocar de forma explicita que:

*A ideia central é de responsabilidade do autor, mas também pode ser herdada de outro autor, ou ainda atribuída a ele por um autor sem capacidades dramaturgicas.
*O dramaturgo é o responsável por dar estrutura dramática a ideias próprias, alheias ou prontas – que são ideias mais populares e de uso comum tais como: “o amor supera todos os desafios”, “o crime não compensa” e etc..

Portanto, o autor de teatro deve ser dramaturgo - ou associar-se a um, já o dramaturgo não precisa necessariamente ser autor.
Colocada a diferenciação entre autor e dramaturgo ressaltamos que trataremos aqui da ideia central como elemento de estruturação de uma peça – ou seja, no que toca primordialmente ao dramaturgo.

Como motor da estruturação de uma peça a ideia central exige: concisão, clareza e sustentabilidade. Para o autor, a priori, a ideia central é livre de exigências; Para o dramaturgo uma ideia central deve conter estas características, pois só assim a estruturação dramática poderá ser plena.
Concisão: É a qualidade de ser sintético na expressão da ideia. Uma ideia central prolixa cria confusões de desenvolvimento e coloca em risco sua vocação dramática.
Clareza: Se reduzida for a capacidade de articulação e compreensão da ideia, reduzida também será a capacidade da peça na comunicação de suas intenções. Portanto, quando da escolha ou formulação da ideia central, deve-se avaliar qual o alcance e se será compreensível e aplicável numa estrutura dramática.
Sustentabilidade: Existem ideias centrais que não rendem mais do que uma cena. Existem idéias centrais que são na verdade “subideias”, subprodutos de uma ideia maior e que poderia ser melhor aproveitada uma vez descoberta. Assim como existem ideias que não se sustentam na empírica dramática. Muitas destas ideias podem ser aproveitadas em outras plataformas e/ou adaptadas para a finalidade dramática. A ideia central que serve a um poema, livro (seja romance ou técnico), música, artes plásticas e etc., não serve necessariamente a uma estrutura dramática (peça, filme, etc.).


Fica claro que os três itens estão interligados e enquadram-se todos na expressão “vocação dramática”. Mas como identificar a vocação dramática de uma ideia central?
A óbvia análise dos três itens é um recurso, porém parece-me que é fundamental uma vivência global (leitura, teatro, cinema) com a arte dramática. As artes dramáticas não têm como fim a folha de papel e, portanto esta vivência dará arcabouço crítico e sensorial para a formação de um dramaturgo.

A ideia central é a opinião sobre um tema especifico ou uma opinião genérica sobre um tema amplo, como por exemplo, a existência. É importante que a ideia central esteja munida de um argumento sólido (que será demonstrado durante a peça), pois este argumento se desdobrará em um conjunto de “subideias” que cena a cena, através do acúmulo e interligação, se revelarão na crise da peça como parte de uma ideia única, a ideia central. Contribuem para a solidez da ideia central o: domínio do tema, a pesquisa profunda, e a clareza de conceituação da opinião expressa.

É importante frisar que a ideia central “deve ser” o primeiro e principal fator estruturante de um trabalho dramático. Freqüentemente isso é ignorado e subvertido.
Existe uma ideia corrente que se deve escrever para uma boa história, uma boa personagem, uma boa ideia de efeitos... Deve-se escrever apenas para “uma boa ideia central”. E o que é uma boa ideia central? É aquela que além de reunir todos os atributos já mencionados seja também dotada de uma opinião autoral articulada (argumentos que tornem esta ideia central sustentável e atraente).

A ideia central é o elemento que dá base aos demais recursos estruturantes de uma peça: AÇÃO PRESENTE, PROTAGONISTA, ENREDO, AÇÃO CENTRAL, CRISE e etc. Portanto, antes de dar qualquer passo na construção de uma estrutura dramática, a ideia central deve ser/estar sólida na base da pirâmide estruturante.

Dramaturgia – Origem


Desde tempos imemoriais as pessoas têm que lidar com seus conflitos. Oficialmente nasceu na Grécia uma forma eficiente para aliviar as pessoas de suas angústias, o teatro.
O teatro servia ao estado grego como um moderador, através dele o estado difundia a idéia de “bem geral da polis¹*”. Este moderador funcionava também como elemento de purificação, pois através do testemunho das ações e erros das personagens em cena o espectador identificava-se com as situações vividas pelas personagens, e assim sendo (em teoria), evitava reproduzir os mesmos comportamentos na vida real. O espectador “vive” o erro na ficção para não reproduzi-lo na realidade.
Através dos séculos o teatro foi usado como “moderador” e “purificador” para diversos interesses (estado grego, igreja católica, etc.).
Portanto, a essência da dramaturgia é instruir e purificar.
Instruir: comunicar uma idéia e/ou conceito para o espectador. Esta instrução geralmente não é didática, ou seja, ao invés de aprender pela via da razão o espectador é levado a incorporar/apreender um conceito através da emoção da experiência.
Purificar: através da experiência o espectador “purga”, ou limpa, seus desejos e medos. Esta limpeza, via de regra, acontece de forma inconsciente.
¹*Conceito que determina que todas as ações dos cidadãos devem ser feitas em prol da polis, a cidade, e de que nunca os cidadãos deveriam colocar seus interesses particulares ou familiares acima dos interesses coletivos.

Por que dramaturgia não é literatura?
Perceba que a dramaturgia está fundamentalmente calcada na experiência. A dramaturgia é feita para “acontecer” frente ao espectador. Isto é algo fundamental para futuramente entender o conceito de “ação” na dramaturgia.