VERMELHO E DE GOSTO PECULIAR

16:32 Kagyn 0 Comments


Não era exatamente uma visão confortável.

Era vermelho e tinha um gosto peculiar.

Ela pensou seriamente em chorar, mas de nada adiantaria, já que o mundo era um deserto particular.

 

Foi terrível o acidente.

A sorte a salvou.

Sim foi a sorte, esta magnifica “coisa” na qual ela sempre acreditou e sempre acreditaria.

 

Ela precisava de jogos. Aquele era o resultado de um jogo íntimo.

- Até que ponto eu posso chegar?

 

Certamente já havia ocorrido outrora, mas só agora ela tinha discernimento para horrorizar-se com o vermelho em suas pernas.

 

Foi estranho constatar que por dentro ela era líquida.

 

Levantou-se e correu para o gramado. Olhou para o caminho percorrido para certificar-se de que não desenhara um caminho em vermelho. Nenhuma gota. Tudo estava encrostado em sua pele. Teve vergonha.

 

O que iriam pensar os que olham de cima? Como voltaria para sua casa?

As perguntas não faziam sentido, pois já conhecia bem as respostas.

Era uma questão de coragem transformar as respostas óbvias em ação.

 

A grama estava queimada,

seus olhos lacrimejantes,

sua bicicleta ruborizada,

suas pernas cruentas.

 

Delongaram-se pouquíssimos segundos para que percebesse que sangrara,

e aquela consciência perduraria até seu leito de morte.

 

As nuvens anunciavam a proximidade da chuva.

Resoluta ergueu-se e ignorou a dor.

Colheu sua bicicleta, antes abandonada na sarjeta, e hesitou antes de montá-la novamente.

 

Apostou novamente na sorte,

e conseguiu bater o recorde de velocidade estabelecido pouco antes do acidente.

 

Tinha 6 anos e percebeu que sangrava, mas nada mudou.

Mesmo sangrando ela continuou.


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